sexta-feira, 29 de outubro de 2010

LITERATURA E SUAS FUNÇÕES

Roselene dos Anjos



Há textos e coisas que são funcionais, ou seja, têm uma função social definida: você lê um manual, uma bula ou uma receita para se orientar; você lê uma notícia para se informar; lê um artigo para conhecer a opinião de outra pessoa sobre um assunto de seu interesse e para formar a sua própria; lê um contrato para conhecer os aspectos legais de uma transação qualquer. Da mesma forma, você compra uma garrafa térmica, uma cadeira, um sapato ou um alimento com objetivos muito específicos.
Há outros textos que não são funcionais: os literários estão entre eles. Você não precisa ler textos literários para aprender, para se orientar ou para se informar. Você pode passar a sua vida inteira sem ler qualquer texto literário e ainda assim ser uma boa profissional (pense num engenheiro, por exemplo), uma boa amiga, uma boa filha. O mesmo ocorre com a arte em geral: você também pode passar a sua vida inteira sem adquirir ou apreciar um objeto de arte, como um quadro ou uma estatueta.
Entretanto, a arte - e o texto literário especificamente - tem um outro tipo de função: uma função humanizadora. Como diz Antônio Cândido, a literatura "confirma o homem na sua humanidade, inclusive porque atua no subconsciente e no inconsciente."
Segundo o autor, a humanização é um processo que confirma no homem aqueles traços que julgamos essenciais: "o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor". Ao consumir literatura, tornamo-nos mais compreensivos, mais sensíveis; abrimo-nos para o mundo, para a natureza, para os nossos semelhantes.

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